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  • De Bissau para Belém do Pará, activista guineense leva projecto de piscicultura à COP30
    De Bissau para Belém do Pará, o jovem activista e empreendedor Dembo Mané Nanque, director-geral da Mana Nanque Piscicultura e fundador do “Puder di Bentana”, prepara-se para participar na Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP30), que terá lugar em Belém do Pará, no Brasil, onde pretende partilhar a sua experiência no terreno e defender políticas climáticas que cheguem às comunidades mais vulneráveis. Antes de ir para a COP30, Dembo Mané Nanque passou pela capital francesa para encontrar parceiros internacionais. O objectivo é exportar a farinha de peixe da Guiné Bissau para França: “Em França há uma comunidade africana enorme e acreditamos que até ao próximo ano o nosso produto poderá estar no mercado”. Apesar do entusiasmo, reconhece que o caminho ainda é desafiante. “Tudo o que fazemos é graças aos nossos pequenos recursos e ao apoio de alguns parceiros internacionais. Mas acreditamos que poderemos abastecer o mercado internacional de acordo com as suas demandas”. O jovem empresário é também fundador e director-geral do “Puder di Bentana”, uma iniciativa de piscicultura com forte impacto social. “‘Puder di Bentana’ é um nome tradicional guineense. ‘Bentana’ é o que cientificamente chamamos de tilápia”, explica. “Trata-se de um projecto de aquacultura que nasceu com o intuito de combater a insegurança alimentar, o êxodo rural e os efeitos das mudanças climáticas.” A tilápia, que é o nome comum dado a várias espécies de peixes ciclídeos de água doce, é consumida fresca ou transformada em farinha. “A farinha tem mais procura porque as infra-estruturas rodoviárias, na Guiné-Bissau, são fracas e o transporte do peixe fresco é difícil. Por isso optámos pela desidratação e embalagem, seguindo os padrões internacionais”, refere. O projecto enquadra-se numa lógica de economia azul e circular, e tem sido apresentado em fóruns internacionais como exemplo de inovação africana. “Queremos mostrar que, com criatividade e empenho, é possível criar soluções sustentáveis a partir da nossa realidade”, sublinha. Depois de Paris, Dembo Mané Nanque seguiu para Lisboa e prepara-se agora para participar na COP 30, no Brasil, onde irá participar num painel de Jovens Afro-descendentes: “A minha intervenção tem como objectivo mobilizar parceiros e impulsionar políticas que beneficiem as comunidades vulneráveis. Queremos garantir que as decisões tomadas nas cimeiras internacionais cheguem efectivamente às zonas rurais”. Para o jovem activista, estar na COP 30 representa muito mais do que uma oportunidade pessoal. “Quero mostrar que a Guiné-Bissau não é apenas sinónimo de instabilidade. Há uma juventude informada, inovadora e pronta para agir”. No entanto, o jovem empreendedor lamenta a falta de apoio governamental. “Existe um apoio limitado e dirigido apenas a determinados grupos. Muitas vezes, por ser activista ambiental e empreendedor, encontro resistência por parte das autoridades. O Estado ainda não compreende que não estamos a sabotar nada, estamos a propor soluções e a querer liderar os desafios climáticos”. A 30.ª Conferência das Partes (COP30) da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, decorre de 10 a 21 de Novembro, em Belém do Pará, no Brasil.
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  • ChatGPT Atlas: uma revolução para o utilizador ou um sorvedouro de dados?
    A dona do ChatGPT lançou o Atlas, um navegador que promete mudar a forma como nos relacionamos com a internet. Além das novas formas de utilização, a Open AI visa um mercado que é actualmente dominado pelo Chrome, da Google. Cátia Pesquita, Professora em Ciência de Dados e Inteligência Artificial no Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, respondeu às perguntas da RFI para esclarecer as dúvidas sobre o significado do lançamento do ChatGPT Atlas. A Open AI, proprietária do ChatGPT, lançou um navegador com o famoso agente de inteligência artificial generativa no seu núcleo no dia 21 de Outubro. De momento, o ChatGPT Atlas está apenas disponível nos computadores da Apple. Os sistemas Windows, Android e iOS do iPhone vão ter de aguardar. Para a empresa de Sam Altman, trata-se de uma inovação que vai revolucionar a forma como nos relacionamos com a internet. Vamos ter ao nosso dispor uma ferramenta que vai aprender quem somos e transformar-se num super-assistente que nos ajuda a realizar as nossas tarefas de forma mais rápida e eficaz. Os críticos apontam para a falta de segurança do sistema, nomeadamente no que diz respeito aos dados privados do utilizador. Por outro lado, o Chat GPT Atlas é construído com base no Chromium, uma estrutura de código aberto desenvolvida pela Google e que está na base de navegadores como o Microsoft Edge ou o Duckduckgo. RFI: Estamos perante uma revolução, à semelhança do que viria a ser o iPhone no campo dos telemóveis. Ou trata-se de um ataque comercial à Google que domina o mercado dos navegadores com o Chrome? Cátia Pesquita: Eu acho que o lançamento do Atlas é, sem dúvida, uma ameaça directa à hegemonia do Google Chrome, que é actualmente o browser mais usado a nível mundial. E é interessante ver como a história às vezes se repete. Porque o Chrome ganhou esta preponderância, em parte, porque conseguiu integrar directamente o motor de pesquisa da Google, permitindo aos utilizadores fazerem pesquisas directamente na barra de endereços. Hoje em dia, temos uma estimativa de mais de 14 mil milhões de pesquisas feitas na Google a nível global, muito graças a esta integração. Agora, a Open AI vê neste browser uma oportunidade de capitalizar a sua base de utilizadores. Se estamos perante uma revolução, temos de esperar um pouco para saber. RFI: Quando refiro o iPhone é porque na altura, quando foi lançado, já existiam telemóveis. O que aconteceu com o dispositivo da Apple foi que os utilizadores começaram a ter acesso a outras possibilidades e isso veio revolucionar toda a forma como nos relacionamos com a internet. Há a possibilidade do ChatPT vir a fazer isto? Cátia Pesquita: Eu diria que é a capacidade de automatizar uma série de interacções online que vai ter esse potencial de revolução. A Open AI promete automatizar tarefas mundanas, como marcar uma visita ao restaurante ou uma consulta médica, tudo através desta integração da inteligência artificial directamente num browser. Isto, obviamente tem muitas vantagens, mas também riscos associados. RFI: Os mais jovens, em termos de busca de informação, já estão a alterar os seus comportamentos com o recurso à inteligência artificial generativa. Em que medida é que a aprendizagem que o agente vai fazer dos hábitos de navegação do utilizador, pode provocar um estreitar de vistas ainda maior, semelhante ao que sucede já com os algoritmos das redes sociais? Cátia Pesquita: A Open AI está muito ciente desta alteração dos comportamentos online e, na verdade, há poucos meses, em entrevista, o Sam Altman, o CEO da Open AI, revelou que o plano de expansão está a ser inspirado pela forma como os utilizadores mais jovens interagem com a plataforma. Enquanto as camadas de maior idade usam-no essencialmente como motor de busca para encontrar informação, os mais jovens estão a usar desde já o ChatGPT como um serviço pessoal de inteligência artificial para os ajudar a tomar as suas decisões no dia a dia. E, portanto, eu vejo o Atlas como um primeiro passo nesta estratégia. Só que esta personalização vem com um custo potencialmente muito elevado, porque para a termos, temos de permitir à Open AI registar toda a nossa actividade online. Mas eu acho que um dos maiores riscos não é apenas esta perda de controlo sobre os nossos dados ou a dependência excessiva na IA de que tanto falamos, mas aquilo também a que se refere que é esta perda de pluralidade de vozes e perspectivas. E na verdade, ao longo dos últimos 30 anos, a Internet tem sido um arauto desta pluralidade de vozes e perspectivas. Os motores de busca tradicionais, como a Google, listam diferentes fontes relacionadas com o tema de pesquisa, ainda que coordenadas por relevância, claro, mas o resultado de pesquisa que vai ser processado por IA, tarefas que são automatizadas por IA, têm um grande potencial de se resumirem ao ponto de vista partilhado pela maioria das fontes, estreitando horizontes. E é assim que os modelos são treinados para captar aquilo que é a maioria das opiniões. E, portanto, o grande desafio aqui vai ser garantir que as nossas pesquisas e interacções online reflictam a diversidade de ideias, opiniões, perspectivas da humanidade. Claro, sem esquecer que têm de ser fundamentadas em fontes fidedignas. A mim resta-me saber se os gigantes tecnológicos partilham desta preocupação. RFI: Isso implica também que os mais velhos, os educadores, cumpram esse papel de explicação aos mais jovens, que há mais mundo além daquilo que lhes é dado através do ecrã? Cátia Pesquita: Este é um tema extremamente complexo. Isto não basta apenas as preocupações da sociedade de uma forma alargada numa educação da população geral, mas onde temos que intervir antes, mas mais atrás, e intervir ao nível do desenvolvimento destas tecnologias. E como todas as tecnologias com potencial de disrupção, é uma espada de dois gumes. Por um lado, todos queremos poder usar inteligência artificial para automatizar as tarefas do dia-a-dia, as tarefas mais mundanas, mais aborrecidas ou até ter um browser que antecipa as nossas necessidades. Por outro lado, nós queremos garantir que temos privacidade, transparência, que mantemos a nossa autonomia nas nossas decisões. Só que para navegar este desafio, não só temos de educar a população geral para os riscos e benefícios de uma tecnologia que não vai parar de evoluir. Mas também temos de apostar na formação de profissionais que aliam o conhecimento técnico e científico às preocupações éticas. RFI: Relativamente ao nível da segurança dos dados, como é que é vista esta relação com o ChatGPT e com o ChatGPT Atlas? Cátia Pesquita: O Atlas, para poder funcionar de forma verdadeiramente personalizada, vai ter de registar toda a nossa actividade online. No entanto, os termos de utilização que estão agora públicos indicam que a autorização para que esses dados sejam utilizados para treinar os modelos da Open AI vem desligada por omissão. No entanto, não faltam vozes que nos relembram dos escândalos de privacidade e direitos de autor, etc., em que a OPA se tem visto envolvida nos últimos anos. Por isso, resta aqui saber se vamos confiar ou se vamos desconfiar. RFI: A Open AI e o Chat PT vão ser, como todos os outros agentes de inteligência artificial, vão ser sorvedouros do nosso conhecimento, da nossa existência? Cátia Pesquita: Eu acho que é na capacidade de consumirem enormes quantidades de dados que estes modelos recentes de inteligência artificial têm ganho as suas capacidades surpreendentes e quase sobre-humanas. A questão é que estamos a chegar ao final dos dados disponíveis online e as empresas correm com criatividade a tentar procurar novas fontes de dados que possam ajudar aos próximos passos de evolução destes modelos. Eu penso que o Atlas tem também por detrás essa motivação, uma motivação de conseguir extrair mais dados dos utilizadores que possam alimentar os algoritmos e, de certa forma, melhorar o seu desempenho e aumentar, obviamente, a sua preponderância no mercado. RFI: Pessoalmente, considera que a existência destas máquinas é um perigo ou uma oportunidade? Cátia Pesquita: Ambas as coisas é um perigo e é uma oportunidade. É uma oportunidade porque existem desafios no mundo que são demasiado complexos para que nós, humanos, com as nossas capacidades cognitivas, os consigamos resolver. Por exemplo, desafios na medicina personalizada e em nós conseguirmos compreender as relações entre os genes e doenças, que é uma das minhas áreas de investigação, são demasiado complexos para nós conseguirmos entender o manancial de dados e informação que estão a ser recolhidos a nível de investigação e, portanto, existe aqui uma oportunidade enorme para o bem da inteligência artificial nos ajudar, por exemplo, a atacar problemas tão prementes como o cancro ou as alterações climáticas. Por outro lado, existem riscos claros. E um risco claro é também a perda de capacidades da população ao confiar demasiado nestas ferramentas para se substituir a si mesmo na aprendizagem, no trabalho e na criatividade. E este é um desafio que a mim me toca também como professora, em que o uso responsável destas ferramentas como potenciadores e não como substitutos da inteligência humana. RFI: Para si o ChatGPT é mesmo a melhor IA do mercado ou beneficia de um fenómeno de marca? Cátia Pesquita: Eu acho que a grande vantagem que o ChatGPT tem não é apenas em termos do modelo de inteligência artificial que o alimenta, mas também da experiência de utilizador que a plataforma permite. Outras plataformas podem termodelos que atingem um desempenho igualmente bom em diversos benchmarks e análises, mas é a experiência de utilização do ChatGPT, os modos de interação, o próprio website e plataforma do ChatGPT que eu julgo que estão a contribuir para a grande fatia de mercado que a Open AI tem.
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  • Novo medicamento para prevenir e tratar VIH/Sida vai dar entrada no mercado angolano
    Um novo medicamento de prevenção e tratamento do VIH/Sida vai entrar no mercado angolano em breve. Trata-se do Lenacapavir, que funciona com duas injecções por ano e poderá custar 28 mil dólares por ano e por pessoa, com ajuda de financiamentos estatais. Este medicamento foi aprovado na União Europeia há alguns anos para o tratamento de pacientes com o vírus.   Em entrevista à RFI, Isabel Daniel, assessora de Informação Estratégica da ONU-Sida em Angola, explicou o funcionamento deste novo medicamente e as vantagens que representa para os cerca de 370 mil angolanos actualmente diagnosticados com o vírus.  RFI: Quais são os dados actuais sobre o VIH/SIDA em Angola? Isabel Daniel: As estimativas da ONU-SIDA em Angola para 2024 são de cerca de 370.000 pessoas que vivem com VIH, ou seja, uma prevalência de 1,6%. Deste grupo, 70% são mulheres, e cerca de 10% são crianças abaixo de 14 anos. No país, a prevalência é maior em algumas zonas.  RFI: Por exemplo? Angola tem 21 províncias. Lunda Sul, Lunda Norte, Cunene, Cubango, Moxico, todas estas províncias do Leste e Sul, têm uma maior prevalência do que o resto das outras províncias. RFI: Como se explica este facto? São províncias que fazem fronteira com países que têm uma prevalência maior que a nossa. Há também grupos mais vulneráveis em termos de comportamento e risco. Por serem províncias, por exemplo, com actividade de mineração, há então muita troca de bens e maior actividade sexual, o que aumenta o risco e os números. RFI: Relembremos como é que se transmite o vírus da SIDA? A principal transmissão é pela via sexual. Uma pessoa que vive com o vírus do VIH e que não faz tratamento, contém um alto número de vírus. Se tiver uma relação sexual desprotegida, pode então passar o vírus para outra pessoa. Pode ser também a contaminação de mãe para filho, durante a gestação, se não tiver a fazer o tratamento, a mãe pode transmitir o vírus através da placenta.  RFI: O que se sabe sobre este novo medicamento, o Lenacapavir, que vai entrar no mercado angolano? De acordo com o Instituto Nacional de Luta Contra a Sida (INLS), trata-se de um medicamento injectável recentemente lançado pela farmacêutica norte americana Gilead e aprovado na União Europeia para o tratamento de pacientes com o vírus. Sim, é uma inovação. Trata-se de um medicamento de acção prolongada. Funciona com duas injeções por ano. Para a prevenção do VIH é muito importante, porque é mais fácil de modo geral. Os grupos de maior risco conseguem então se proteger melhor. RFI: Quem é que são os grupos de maior risco? São os adolescentes, meninas e mulheres entre 15 a 24 anos, trabalhadores de sexo - pela actividade económica que exercem, têm maior risco - Homens que têm relações sexuais com outros homens também apresentam uma prevalência maior, pessoas transgénero e também pessoas em prisões, por falta de higiene e outros comportamentos associados, como o uso de droga, e o acesso mais limitado aos serviços de saúde. RFI: Como é que será assumido o custo do medicamento para cada beneficiário? De acordo com os documentos nacionais disponíveis e as avaliações, sabemos que o Estado angolano custeia cerca de 80% dos custos no combate contra a propagação do VIH. Há depois um certo suporte dos parceiros. RFI: Mas se formos até ao fim da cadeia para chegarmos ao utente. Quanto irá custar para, por exemplo, uma mulher com VIH comprar o medicamento?  Tem havido muita advocacia para que o preço inicial fosse reduzido. As últimas informações são de 28.000 dólares por ano e por pessoa. Então este seria um novo custo que o governo teria que incrementar dentro do plano estratégico para o combate do VIH. Lembrando sempre que um investimento agora é uma poupança no futuro. RFI: De acordo com o Plano Estratégico de Resposta ao VIH 2023-2026, Angola dispõe actualmente de 35 milhões de dólares. A ONU alerta que seriam preciso 145 milhões de dólares.  Exacto. O plano estratégico do VIH de Angola para os três anos de 2023 a 2026 estima que sejam necessários cerca de 580 milhões de dólares para fazer face à doença. Ou seja, anualmente, seriam 145 milhões de dólares. O Grupo Técnico de Monitoria de Angola fez então a análise em 2024 de quanto conseguimos alocar para esta resposta, e foi reportado que são 35 milhões de dólares. RFI: O que quer dizer que é preciso um investimento muito maior ainda? Exacto. Não só para prevenir e tratar, mas também para combater as discriminações. Uma em três pessoas vivendo com VIH não procura ajuda e cuidados devido ao estigma. De forma geral, em Angola houve muito progresso nos últimos dez anos, mas em termos de tratamento, apenas 50% das pessoas que vivem com VIH recebem tratamento. Esse número é muito inferior à meta da ONU de 95% de pessoas com tratamento. 
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  • A transição verde da China: De maior poluidor a líder da economia do futuro
     Vamo-nos projectar para 2060. Esta é a data limite em que a China afirmou querer atingir a neutralidade carbono. Luis Mah, professor desenvolvimento global no Instituto Universitário de Lisboa, analisa connosco esta viragem do maior poluidor mundial, responsável por 80% do aumento global das emissões de gases com efeito de estufa nos últimos 10 anos. A China tem vindo a posicionar-se como líder da transição energética global, apesar de continuar dependente do carvão. Para Luis Mah, professor de desenvolvimento global no Instituto Universitário de Lisboa, “a China está a descarbonizar não só por questões ambientais, mas também por ambições geo-económicas”. De facto, ao investir em tecnologias verdes, como a energia solar e eólica, pretende exportá-las para o Sul Global. “A China já vende mais tecnologia verde ao Sul Global do que ao Norte mais rico”, afirma o professor, destacando o seu papel crescente em África. Embora continue a construir centrais a carvão : “Estamos talvez a assistir ao pico do consumo de carvão, um passo essencial para a transição”. No plano internacional, o afastamento dos Estados Unidos sob a presidência de Trump oferece uma oportunidade: “Pequim vê aqui uma janela para se afirmar como líder climático mundial”, defende o universitário.
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  • Nova pista científica abre caminho a diagnósticos mais precoces do Alzheimer
    A doença de Alzheimer continua a ser um dos grandes enigmas da medicina. Em Portugal, é já a patologia neurodegenerativa mais prevalente, impondo um encargo a famílias e ao Serviço Nacional de Saúde. Num avanço promissor, Tiago Gil Oliveira venceu o Prémio Bial de Medicina Clínica ao demonstrar que diferentes regiões cerebrais reagem de forma distinta às proteínas tóxicas do Alzheimer. A descoberta abre caminho a diagnósticos precoces e terapias mais eficazes. O médico e investigador português, Tiago Gil Oliveira, de 40 anos, acaba de vencer o Prémio Bial de Medicina Clínica com uma descoberta que pode mudar o rumo da investigação. A sua equipa demonstrou que diferentes regiões do cérebro não reagem da mesma forma às proteínas tóxicas associadas ao Alzheimer. Uma nova pista que pode abrir caminho para diagnósticos mais precoces e terapias mais eficazes. “O primeiro passo é compreender melhor a doença. Saber quais são as vias moleculares, os genes, as regiões cerebrais atingidas e como cada uma reage a estas alterações patológicas. É um trabalho de detalhe. Só assim poderemos avançar para tratamentos mais certeiros”, começa por explicar. Formado no Hospital de São João e investigador na Universidade do Minho, Tiago Gil Oliveira tem percorrido os dois mundos em simultâneo: o da clínica e o da investigação. Essa duplicidade não é acessória, é central. “Ver os doentes todos os dias gera em mim um sentimento de urgência. Não podemos perder tempo. E, ao mesmo tempo, mostra-me a enorme diversidade da doença. Um doente com Alzheimer não tem só Alzheimer. Muitas vezes carrega outras patologias, que influenciam a evolução clínica. Essa observação clínica inspirou parte da minha investigação”, partilha. Não é de hoje que o investigador persegue estas pistas. Aos 26 anos, liderava projectos inovadores sobre os lípidos do cérebro e o seu papel na memória e no envelhecimento. Hoje, com uma equipa de vinte pessoas no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, insiste em olhar o Alzheimer por dentro. Nos últimos anos, alguns países aprovaram medicamentos capazes de remover as placas de amiloide, as fibrilas que se acumulam no cérebro e que marcam a doença. Se chegarem a Portugal, diz Tiago Gil Oliveira, o impacto será profundo: “Vai ser uma revolução. Até agora não havia terapêuticas que alterassem a evolução da doença. Mas nem todos os doentes vão ser elegíveis. Haverá um processo de selecção rigorosa para perceber quem beneficia mais e quem tem menos risco de efeitos adversos. Isso vai exigir uma reorganização profunda do SNS. É um desafio imenso”. Além da reorganização, haverá também um novo paradigma de acompanhamento. O doente deixará de ser visto apenas como portador de uma doença única, e passará a ser avaliado em toda a sua complexidade, “tal como na hipertensão, o futuro passará por terapias combinadas, adaptadas a cada pessoa, onde entram dieta, lípidos cerebrais e outras estratégias. Só assim chegaremos a uma medicina de precisão” acrescenta. A investigação internacional traz, de tempos a tempos, surpresas que desafiam as investigações em curso. Recentemente, investigadores de Harvard mostraram que uma deficiência de lítio pode estar na origem de maior vulnerabilidade ao Alzheimer. “Foi um avanço notável. Percebeu-se que a deficiência de lítio aumentava a toxicidade cerebral e diminuía a capacidade de remover as placas. Mas também que a reposição com um tipo específico de lítio conseguia proteger o cérebro. Não o lítio usado como estabilizador do humor, mas uma forma especial. Isso abre novas possibilidades não só para a doença, mas também para alterações associadas ao envelhecimento. Agora é preciso tempo: anos de ensaios clínicos para sabermos se a hipótese se confirma”, sublinha. Entre promessas e prudência, o investigador lembra o essencial: a ciência não avança por saltos milagrosos, mas por passos sucessivos. Cada pista abre um caminho que leva a outro, até que, um dia, se chegue a uma resposta sólida. No laboratório de Braga, a equipa de Tiago Gil Oliveira aposta num terreno menos explorado: os lípidos cerebrais: “Sabemos que variantes genéticas associadas ao Alzheimer afectam genes ligados à sinalização lipídica do cérebro. E os lípidos são constituintes essenciais do tecido cerebral. Se conseguirmos manipular a sua composição no sentido certo, talvez possamos proteger os neurónios ou torná-los mais resistentes à toxicidade das placas”. E a equipa já testou isso em modelos animais, “Se manipularmos a composição lipídica, podemos tornar as células mais eficientes na remoção das placas ou mais resistentes ao seu impacto. Esse é um dos nossos focos actuais”. No fundo, o percurso de Tiago Gil Oliveira é atravessado por um fio que liga o microscópio ao olhar do médico junto do doente. É essa ponte que lhe dá a energia para prosseguir. “Estar no hospital dá-me a medida da urgência. No laboratório, tento transformar essa urgência em hipóteses de trabalho", compara. No silêncio da investigação, entre os ratos de laboratório e microscópios, o que está em jogo é sempre a mesma coisa: um futuro em que a memória não se apague depressa. “O nosso objectivo é simples na formulação, mas imenso na ambição: travar a progressão do Alzheimer. Não sabemos quando conseguiremos lá chegar. Mas sabemos que cada passo é necessário”, concluiu.
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