Luísa Semedo: “Nunca tive problemas em aceitar cargos de responsabilidade. Quando era miúda pensei ser Presidenta da República”
O destino de uma vida na fábrica parecia já traçado na história de Luísa Semedo, mas, mesmo sem qualquer modelo que lhe pudesse servir de referência, era para a liderança política que os seus sonhos apontavam. “Quando era miúda, pensei ser Presidenta da República”, conta neste episódio, distanciando os planos infantis de ambições de poder, e aproximando-os do desejo de cuidar. “Sou a irmã mais velha, tive que cuidar dos meus irmãos, tive que cuidar também dos adultos da minha família, que tinham algumas problemáticas. E, portanto, sempre fui a mãe de muita gente”. Desde cedo habituada a assumir e a acumular responsabilidades, a investigadora reconhece agora a necessidade de parar. “Estou a viver um burnout há alguns meses. Estou a tentar sair dele, e a fazer muita aprendizagem em relação a isso.” O diagnóstico de Luísa surgiu após o assassinato de Odair Moniz, e confrontou-a com uma realidade ainda pouco conhecida, e até incompreendida: o burnout do ativismo, território no qual se move, em defesa dos Direitos Humanos. “Sinto-me, muitas vezes, num lugar de privilégio e, portanto, tenho dificuldade em dizer não, porque tenho que estar à altura e tenho que conseguir”. Nascida em 1977, em Lisboa, Luísa cresceu no Bairro da Serafina, filha de mãe portuguesa e pai cabo-verdiano, ambos operários. Ainda criança, recorda que deixou de acreditar em Deus, quando estudava numa escola de freiras. “Fiquei ateia, mas com medo de ser má pessoa”, admite. Já adulta e a viver em França, para onde emigrou aos 24 anos, a investigadora, escritora e cronista, procurou compreender se existe uma capacidade universal, e que não tenha que ver exclusivamente com a cultura ou a religião, que faça dos seres humanos boas pessoas. Foi aí que encontrou a empatia, tema da sua tese de doutoramento em Filosofia, pela Universidade Paris-Sorbonne. Nos antípodas desta descoberta, Luísa partilha ainda como o combate à discriminação a confrontou com o pior da desumanização. “Fui atacada por um neonazi, e pensei mesmo: vou morrer”. Sem heroísmos, a ativista conta, nesta conversa com Georgina Angélica e Paula Cardoso, como lidou com essa e outras agressões: “Não é o que eu faço, é o que eu sou”.See omnystudio.com/listener for privacy information.