O CORPO QUE SEMPRE FOI O SEU!
Naquela manhã, o despertador que outrora lhe ditava as horas a que havia de acordar simplesmente não tocou!Não porque ela se tenha esquecido de o ativar, mas porque, pela primeira vez em muito tempo, não havia razão para o fazer! 06:00! A hora sagrada… a hora que durante anos fora um ritual. Não de prazer, não de obrigação… mas de guerra!Uma guerra que travava contra si própria. Contra a pele, contra a carne, contra os espelhos, contra os números. Uma guerra silenciosa, mas feroz!O corpo…Esse que tantas vezes moldou, escondeu, castigou!Esse que nunca parecia estar certo, nunca parecia ser suficiente…Mas naquela manhã abriu os olhos e, pela primeira vez em muito tempo, não sentiu pressa em levantar-se!Não existiram corridas até à balança, nem promessas de punição pelo que tinha comido no dia anterior.Naquele dia o seu corpo estava ali.Não era perfeito, não era esculpido, nem tão pouco era digno de capa de revista!No entanto era um corpo vivo. Um corpo presente. E acima de tudo… era o seu corpo! Levantou-se devagar, sentindo cada músculo, cada osso, cada pequena imperfeição que aprendera a odiar.De pé, diante do espelho, olhou-se nos olhos e pela primeira vez não desviou o olhar.Ali estava ela.Com as marcas de todos os anos em que tentou ser o que lhe diziam que deveria de ser.As cicatrizes das dietas, das comparações, das lágrimas derramadas em provadores de lojas.As curvas que ora tentava acentuar, ora tentava apagar.Os traços de uma mulher que sempre lutou contra si própria, sem nunca perceber que estava a lutar contra o amor que merecia dar-se.E então, num gesto simples, mas revolucionário, pousou as mãos sobre a pele nua e respirou fundo…Sentiu o coração a bater, a pele a aquecer e os pulmões a encherem-se de ar!O corpo nunca foi o seu inimigo. O corpo sempre esteve ali, a sustentá-la nos dias difíceis, a permitir-lhe dançar nas noites felizes, e acima de tudo a abraçá-la quando o mundo a empurrava.O corpo, esse que tanto desprezou, só queria uma coisa… amor.Naquela manhã, sem despertador, sem pressa, sem necessidade de caber num molde que na verdade nunca foi o seu, prometeu algo a si própria…Nunca mais se iria odiar por não ser o que os outros achavam que devia ser! Mais que isso… nunca mais se desculparia por existir da forma que existia! Naquela manhã vestiu-se devagar…Não para agradar a ninguém.Não para esconder nada.Mas porque merecia sentir-se bonita, simplesmente do jeito que era.E antes de sair, olhou mais uma vez para o espelho e sorriu.Não porque agora se achasse perfeita.Mas porque, finalmente, tinha percebido que nunca precisou de o ser!Para todas nós que fique aqui escrito, como se de uma bíblia se tratasse: Que o espelho seja para sempre o nosso maior aliado e nunca o nosso maior inimigo! O corpo é apenas o transporte da alma e a tua é simplesmente maravilhosa! Nunca te esqueças de viver todos os dias e de te amar para o resto da tua vida! Bem haja!