Vamos Por Partes

Este fim de semana ficámos a saber muitas coisas sobre Luís Marques Mendes. Ficámos a saber que teve empresas. Que teve muitos clientes. Que ganhou muito dinheiro. Que se prestou às nobre arte da consultoria. Um político experiente, com currículo, a capitalizar décadas de contatos e exposição mediática. Mas vamos por partes.

Esta semana ficámos a saber três coisas que, vistas isoladamente, parecem apenas episódios menores da crónica nacional: a Spinumviva está morta; as residenciais universitárias estão morimbundas; e o Aeroporto está ligado à máquina. Mas juntas formam algo mais inquietante: um retrato fiel da falência do Estado português - não apenas administrativa, mas moral e política. Mas Vamos por partes.

O Governo percebeu aquilo que a rua deixou claro: André Ventura não tem coragem para sustentar estas medidas. Para quem sonha “Salvar Portugal”, a coerência é um luxo dispensável e a vergonha um custo aceitável.E é por isso que, agora, o Governo só ousará levar uma proposta de lei à Assembleia da República se ela chegar carimbada pela UGT. A chave do processo deixou de estar em São Bento e passou para o sindicato. É nas mãos da UGT que repousa o destino do pacote laboral. O destino dos trabalhadores. E, com uma ironia que a política portuguesa cultiva com zelo, também o destino de Ventura e de Carneiro.

Ventura não cita relatórios e não apresenta números. Diz que vê facadas todos os dias. Que estão por todo o lado. Que a criminalidade violenta está a aumentar - porque se vê.Ventura diz que vê. Só que aquilo que ele vê não é Portugal: é um ecrã.

Portugal é um dos países mais desiguais do mundo para os 50% mais pobres. É mais desigual do que Espanha, França, China, Índia. É até mais desigual do que a Mauritânia e a Guiné. Que conclusões deveremos retirar do relatório sobre a Desigualdade Mundial de 2026, publicado pelo World Inequality Lab?